sábado, 14 de agosto de 2010

RELATÓRIO TARDIO DO PEQUENO INVERNO

HOUVE ALGUM FRIO.

pude ver no rosto de uns, a imensurável solidão, 
e de outros um tremendo esforço para suportar-se.

dissemo-nos coisas inóspitas, andamos sobre a linha tênue das delicadezas,
e ela se partiu.

e nós ficamos aqui, em círculos, durante algum tempo escapista.

esperando o que merecer, sem burlar a vigilância, quietos e soturnos como ele nos quis,
o inverno infernal de nossos antepassados.
odiamos a herança...

aquilo o que desejávamos, embalado em  folhas vãs de pretérito,
preteridos nós, insones e imersos na angústia, 
pílula afetiva tomada em motocontínuo,
prisão imediata de todos os desejos.



e até vir o sol, ainda não havíamos chegado em nós...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

MÚMIAS

meu caro V.B. , bom dia.
estou escrevendo para lhe avisar
que nada do que você viveu, lhe pertence.
conclusivamente,
nada do que vc é existe,
nada do que você tem, merece.
Seus amores estão obsoletos,
e suas emoções, desacreditadas.
motivo(estou sendo generoso em dizer-lhe): extravio de destino.
previsão de restituição: zero.
opções: pedra, papel ou tesoura(para tesoura esperar 25 anos, demanda máxima). para pedra, esperar 150 anos, (o mundo anda estranho). para papel, não há vagas(leveza em falta...)
retire-se por ali e deixe tudo na portaria,


só irão consigo, seus monstros e assombros
e o que farás de você, é problema seu...

sem mais, mesmo,
G. K. M.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

PLACEBO

soluçar
é o caminho mais fácil
para evitar suspiros
quando de soslaio
avistar o passo
fugido do tempo
caído do Éden
fisgado no Olimpo.


fustigar
todas estranhezas,
as bússolas engavetadas,
o mistério das formigas
as pequenas agonias,
e nisso, ater-me
até não mais atormentar-me a tarde,
em que me vens,
em que me invades...


e dizer que nada mais és
que um sacrifício
da merecida farsa
que admito, tôsca,
que és o que não mente
ser assim, suave,
não venta, nem chove,
em nada troveja.


a vida  apenas cicatriza
sobre a pele de si mesma...

SIM, FUI EU

os ossos do ofício estalam e doem sem parar durante a noite de agosto,
e eu enfurecido, durmo com o gosto de coisas fugidias.
o enigma de hoje não foi resolvido, e até amanhã
se acumulam outros escândalos: não seríamos mais burros em Londres que aqui nessa kitinet vagabunda do terceiro mundo...
basta receber os pêsames,
e saber o nome certinho de todas as atrizes: essa é a chave para sobreviver
a meia hora entre os mudernos da semana.
Foda-se Hugo Chavez pela quinquagésima vez,
e assim, brindamos ao futuro que a puta pariu.

ok, não vou limpar nada,
nada mesmo,
embora tenha sido eu mesmo que fiz.

THE TRASHERS

Sorridentes e tranquilos transeuntes sucedidos.
eles se aproximam dos inválidos.
soluço.soluço.soluço.
o coração de Jesus é um ovo estralado na veia da metrópole, 
e os cães da noite não têm culpa alguma.
Eu não sei o que seria de mim sem Miles Davis.


qualquer forma de consideração
é impraticável:
hoje é o dia mundial do ostracismo.
de manhã, veremos no jornal o que vivemos
e principalmente
o que não soubemos viver.


sorry, baby
eu não tenho satisfação alguma a lhe dar,
principalmente por não estar satisfeito, e a língua portuguesa é sim,
aliada dos malditos, infelizes, ineficazes e sonsos-praticantes(em alta!),
a língua portuguesa é a puta dos pústulas.


corra o mais rápido que puder, a felicidade vem vindo,
evite a cena heróica dos bravos que decaem num gôzo intermitente,
fuja daqui agora, a onde de aneurismas e lirismos vem vindo,
patética,
derrubando o caos irmão e benigno, esse pão nosso de cada dia...